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Mestre de bateria cadeirante, sonha em ser campeão no Anhembi!

Mestre de bateria cadeirante, sonha em ser campeão no Anhembi!

Data de Publicação: 6 de janeiro de 2021 22:29:00

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Por: Victória Teixeira – Colunista – Texto e correções

Cheio de gratidão pelo o que o samba lhe deu e ensinou, em seu 4º ano
à frente dos ritmistas da bateria universitária Inferno Azul, Leonardo
Marques, mais conhecido como Mestre Léozinho fala sobre seu carinho
ao samba e amor e admiração pela X-9 Paulistana e Beija-Flor de
Nilópolis e também fala sobre sua relação e adaptação com os
instrumentos musicais pela sua condição de portador de deficiência
física.

Revista Feras: Quem é Leonardo Marques?


Mestre Léozinho:

  • Leonardo é um cara que teve uma infância muito
    difícil, teve que aprender muito cedo a ter responsabilidade e
    maturidade, um cara que é regado a força de vontade, alegria, metas e
    principalmente sonhos, um cara que aprende muito com os erros, e que tem defeitos como qualquer ser humano… Mas que é apaixonado pela vida, e que não se lamenta de nada que passou, nem da sua deficiência.

Revista Feras: Como entrou pro carnaval, qual sua escola?


Mestre Léozinho:

– Entrei no carnaval através da minha mãe, ritmista
muito antes de eu nascer, ela em 2004, me levou e me apresentou a
nossa escola de coração X9-Paulistana, que é o meu pavilhão e a escola
que tanto amo aqui em São Paulo, mas impossível responder essa
pergunta, sem falar que metade do meu coração é verde e vermelho, e
a outra metade azul, pois tenho uma outra paixão chamada Beija Flor!

Revista Feras: Você tem apoio da sua família, quanto ao carnaval?


Mestre Léozinho:

  • Da minha mãe e irmãozinhos tenho apoio sim, apesar
    de alguns pontos, minha família sempre me apoia e se orgulha de mim.

Revista Feras: Qual sua preparação para um dia ensaio e pro dia do
desfile oficial?


Mestre Léozinho:

  • Preparação para o dia de ensaio não tenho muita não,
    mas procuro ir sempre de bom humor, e afim de fazer o melhor ensaio da minha vida. Pra desfile já me preparo bem, faço uma alimentação mais leve e regrada, procuro descansar um pouco mais durante o dia, bebo bastante água, essas coisas, mas também nada de tão preparatório assim, meio que já me acostumei! (Risos)

Revista Feras: Você é Mestre de Bateria Universitária, como
funciona esse seguimento de ritmo?


Mestre Léozinho:

  • Sim, o mundo de “BU” (bateria universitária) é
    totalmente diferente do carnaval, os torneios exigem muita criatividade, uma ótima execução e tudo mais… Estou indo pro 4º ano à frente da Inferno Azul mas os aprendizados são diários, estudo outros ritmos, arranjos, estudo o samba, os instrumentos, gestão de pessoas… enfim é um mundo incrível, e eles são hoje muito importantes não só na minha vida profissional, sem os “meus meninos”, eu não sou nada.

Revista Feras: Na sua condição de portador de deficiência, se sente
amparado pelas agremiações que visita?


Mestre Léozinho:

  • Em relação a acessibilidade, SIM, a maioria das
    escolas até que tem bons acessos.

Revista Feras: Tem algum instrumento que tem que ser adaptado para o
seu uso?


Mestre Léozinho:

  • Na verdade, todos foram adaptações, pelas minhas
    mãos serem atrofiadas, tive que arrumar o meu jeito de tocar, segurar,
    e postura, desde o tamborim, até os surdos, todos eu toco de um jeito
    “diferente” do tradicional, o repique foi o mais difícil, pois tem o slap (
    tapa com a mão esquerda ) e eu não abro a mão esquerda direito, então junto com meu amigo Ramos Yan, tive que achar uma outra forma de executar está nota, mas graças a Deus consigo executar todos sem muita dificuldade em relação a adaptação.

Revista Feras: Fantasia inusitada que você já usou no carnaval? Teve
que ser adaptada? Se sim, a agremiação ajudou ou você arrumou por
conta própria?

Mestre Léozinho:

  • A mais inusitada, foi uma de foca, que usei na
    X9!(Risos) Adaptações, algumas tiveram que ser adaptadas mas a que eu mais achei incrível, foi a do meu primeiro desfile de 2005 na x9, que a fantasia era um fusca, onde as crianças ficavam em pé dentro dele, tipo, pra mim fizeram um fusca em volta da cadeira, e a cadeira parecia realmente um fusca, achei incrível, e sou muito grato ao carnavalesco, e a equipe de barracão porque achei aquela ideia incrível!!!

Revista Feras: Você tem um projeto chamado SambaSuperAção. Qual o
objetivo desse projeto? Foi usado alguma inspiração pra criação do
mesmo?


Mestre Léozinho:

  • O SambaSuperAção é um projeto, onde queremos
    mostrar que todos são capazes de tocar em uma escola de samba.
    Motivar os deficientes que querem entrar para este mundo, e não
    tentaram ainda por medo de não serem bem recebidos… Dar ênfase e o seu devido valor todos os deficientes (não só´ físicos), que tocam nas
    escolas de samba, e as mídias que cobrem o carnaval e seus próprios
    mestres e diretores não os valorizam. Mostrar que o preconceito está na cabeça de cada um, que tem vaga sim para os deficientes em todas as baterias e escolas de samba!!! O nosso foco principal é levar o samba, o conhecimento rítmico pra todas as pessoas, mas principalmente para as pessoas que estão passando por um momento difícil, mostrando que #osambacura e #osambatransforma! Nossa inspiração sem dúvidas, é o projeto Mulheres No Ritmo, um projeto que eu admiro e respeito muito, e que mostra a força de todas as mulheres, e é isso que tem que ser mesmo, todas as mulheres são incríveis, aliás um grande beijo a essa página a esse projeto, e as envolvidas no mesmo, sou fã demais.

Revista Feras: Sobre o carnaval de hoje, você acha que ele se perdeu
em algum momento ou se hoje ele está com mais força que ele tinha
antigamente? Você mudaria algo nele?


Mestre Léozinho:

  • Eu acho que o carnaval tem diversos pontos positivos
    e negativos. Carnaval está em uma evolução constante e natural, não dá para eu querer que tudo seja igual a 2005 que foi quando iniciei, a
    renovação e modernização está aí, esse é o processo e vai continuar
    sendo! Acho que a atitudes, egocentrismo, humildade, e principalmente , falta em muitas vezes e em muitas situações, cada um tem que ter isso na sua cabeça, eu tenho na minha, e trabalho para ser uma pessoa melhor a cada dia, a cada momento, e acho que todos deveriam praticar isso também, carnaval seria muito melhor, falta muita união no carnaval de hoje, e com toda certeza, é por conta dessas coisas que falei.

Revista Feras: Tem alguma admiração ou amor por alguma escola em
especial?


Mestre Léozinho:

  • Meus dois grandes amores sem sombra de dúvidas,
    são, X9-Paulistana e Beija-Flor, minhas escolas e meus pavilhões. Mas
    tenho um gigantesco carinho, pela Dragões da Real, Império de Casa
    Verde que é uma das primeiras escolas que desfilei, tenho muitos
    amigos lá, e um carinho gigante pela Mocidade Unida da Mooca, escola de uma família de amigos, que tenho desde 2005, Dona Maria do Carmo e meu querido amigo Rafael Falanga, o presidente mais bonito do carnaval (Risos) nos conhecemos em 2005 e temos uma amizade e carinho gigantesco até hoje!

Revista Feras: uma inspiração.


Mestre Léozinho:

  • Primeiro de tudo minha mãe, a inspiração pra minha
    vida toda, seja profissional ou pessoal, mãe obrigado por ser mãe e pai, amiga, companheira, guerreira, inspiração e motivação, Eu te amo! No carnaval tenho minhas duas maiores referências, que foram os caras que me formaram Mestre Augusto e Mestre Tornado, meus pais e amigos no carnaval, sem sombra de dúvidas o mestre Rodrigo Moleza, o que eu admiro, respeito, e estudo o trabalho dele não tá escrito, o grande Mestre Rodney mestre da minha querida Beija- flor, e no meu primeiro instrumento e o que mais amo, tenho o mestre Fábio Américo e a Kamila Paiva, que foram os que me ensinaram tudo que sei no tamborim, e a minha querida amiga Laisa Lima, diretora da nossa querida beija Flor, e meu querido amigo, inclusive chamo ele de gêmeo, pois nos parecemos muito em tudo, que é o Lucas Gonçalves, hoje diretor de bateria da Mancha Verde, quero agradecer ele por todo apoio, ajuda, e carinho, ele e fundamento na minha vida pessoal e no samba.

Revista Feras: Perante ao Carnaval, você tem algum sonho?


Mestre Léozinho:

  • Tenho três grandes sonhos no momento. 1 – Voltar a
    defender o pavilhão da X9-Paulistana, 2 – Ser campeão trabalhando, e o 3º é maior sonho que é ser Mestre de uma escola de samba no Anhembi, esse sem dúvidas é meu maior sonho!

Revista Feras: O que você está fazendo nesses tempos de pandemia?


Mestre Léozinho:

  • Estou dando minhas aulas online, workshops para
    baterias universitárias, ensaiando como posso a Inferno Azul, cuidando bastante do projeto Samba SuperAção, estudando, estudando e estudando muito, em busca desse sonho de ser mestre de Anhembi, e orando sempre, para que Deus e meu pai Xangô abram meus caminhos e cuidem dos meus… Meu recado é união meu povo, precisamos de união, saber respeitar as pessoas, vamos ter humildade, pés no chão e transparência sempre, para que tenhamos cada vez mais, um mundo melhor!

Revista Feras: E sobre o que está acontecendo com o mundo agora, a
violência policial, racismo escancarado, o fascismo… O que aconteceu no
mundo para que chegássemos a esse ponto. O que uma opinião
masculina tem a nos dizer sobre todo o caos que acontece hoje no
mundo inteiro?


Mestre Léozinho:

  • Não é nem questão de opinião masculina, é a opinião
    e a visão que todo mundo tinha que ter. Essas paradas vieram à tona
    agora e que bom que vieram, mas é algo que sempre aconteceu,
    sempre esteve presente, eu sempre sofri preconceito por ser deficiente e tenho certeza que todos os deficientes também, acho que tudo isso tem que acabar, mas pra isso, cada pessoa precisa praticar em si mesmo, empatia, e respeito ao próximo e isso é essencial para um mundo melhor, por exemplo acessibilidade na cidade, nas estações, não temos, e isso ninguém fala, e os governantes também não pensam e melhoram isso, e sabe porquê? Porque eles não passam pelas nossas dificuldades não sofrem na pele, e ninguém nos ouve quando nos manifestamos sobre isso, então temos que cada um começar a pensar em TUDO ISSO, preconceito está dentro da cabeça de cada um, seja de raça, cor, opção sexual, deficiência, classe social, e etc… Preconceito está dentro de nós, e precisamos nos libertar disso!!!

Foto: Gustavo Fotografia, @detelentino, Pedro Videomaker, AlfaFlash e
Arquivo Pessoal.

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