Diretora de chocalho, Raquel Teodoro, diz: “No começo não foi 100% fácil, mas eu consegui e conquistei o meu lugar!”
Data de Publicação: 11 de agosto de 2020 00:38:00
Por: Victória Teixeira – Colunista Raquel Teodoro tem passagem como diretora de chocalho nas agremiações Camisa Verde e Branco, Lavapés, Imperador do Ipiranga, Imperatriz da Sul, Pérola Negra, e agora espera o fim da quarentena para direcionar os chocalhos da Dragões da Real. Confira o papo da Raquel com a Revista Feras:
Revista Feras: Quem é Raquel Teodoro?
Raquel Teodoro: - Me chamo Raquel, conhecida como Quel e para os mais chegados também rs. Tenho 24 anos, moro na zona Leste.
Revista Feras: Como entrou pro carnaval, qual sua escola?
Raquel Teodoro: - Eu cresci no Carnaval juntamente da minha família, meus pais e tias que frequentavam bastante a comunidade da Barra Funda e Bela Vista. Partindo de um primo nosso que nos convidou para desfilar na MUM em 2004/2005, foi onde tudo começou pra mim (posso dizer que tenho um grande carinho e respeito eterno por essa agremiação onde comecei e aprendi muito). 2006 foi meu primeiro desfile no Anhembi pela minha escola de coração Camisa Verde e Branco, partir disso meu amor se tornou verde e branco (com uma forcinha do meu pai também rs, se não fosse Camisa poderia ser Vai-Vai pelas influências familiares rs). 2015/16/17 fiz parte da bateria e em 2017 me tornei diretora de chocalho onde fiquei á frente até 2019. Fui diretora em outras agremiações como Lavapés, Imperador do Ipiranga, Imperatriz da Sul e Pérola Negra (minhas duas últimas direções, em 2020).
Revista Feras: Você como mulher, estando a frente de alguns ritmistas da bateria teve alguma dificuldade com isso? Qual é a sua relação com o pessoal da sua ala?
Raquel Teodoro: - Não digo dificuldade pois tive muito o apoio dos outros diretores alguns ritmistas mais próximos e até pessoas de outros departamentos também, mas no início conquistar o respeito sim, a maioria das pessoas (homens mais precisamente) que não aceitavam ou respeitavam, ou levava como brincadeira ou desdém algo que eu falava ou pedia até mesmo no comando, no começo não foi 100% fácil mas eu consegui e conquistei o meu lugar. - Na minha direção atual (Dragões da Real) infelizmente ainda não tive a oportunidade de ter contato e conhecê-los melhor, não deu tempo por conta dessa pandemia. Mas nas outras direções, eu conhecia maioria do pessoal e fiz novas amizades também. E uma coisa que eu carrego muito comigo e sempre falo que 'eu sou muito amiga de verdade, a mais zoeira, amo uma farra uma piada, mas quando o assunto é ritmo, formou a bateria, subiu o samba, acabou, eu sou diretora, estou ali pra apresentar um trabalho junto com eles. O profissionalismo toma conta e é foco no trabalho' sem perder também a descontração o humor a curtição de estar com a bateria. Eu tenho um exemplo, minhas amigas mais próximas minhas irmãs eu diria, sempre desfilam comigo e elas são provas vivas, elas mesmas falam que eu como diretora sou 'chata demais' que não me aguentam as vezes (mas não largam) não misturo as coisas. Saber separar o pessoal do profissional é difícil, ainda mais quando se tem bastante amizades contatos, mas aprendi lidar com isso.
Revista Feras: Qual sua preparação para um dia ensaio e pro dia do desfile oficial?
Raquel Teodoro: - Para os dias de ensaio dependendo da correria do dia (se estou trabalhando ou não, ou fazendo algo) procuro não ficar sem comer por muito tempo, geralmente estou sempre comendo, bebendo, com fome sempre rs água é fundamental eu bebo água direto então não falta nunca.
Para o dia do desfile eu faço tudo contrário kkkk eu não consigo comer nem beber, não durmo, me da crise de ansiedade, geralmente como qualquer coisa que me empurram pra eu não cair dura na avenida e é isso rs. Na semana do desfile eu procuro me resguardar o máximo, vou no terreiro tomar um axé pré-carnaval, antes do desfile faço minhas orações meus atos e firmeza sempre.
Revista Feras: Qual look usa mais em ensaios? E o que prefere pra apresentações nas escolas coirmãs? e qual look mais diferente que usou?
Raquel Teodoro: - Eu gosto de me sentir à vontade em qualquer lugar que eu esteja, me visto pra me sentir bem, nos ensaios uso calça ou shorts e se é uma festa ou apresentação gosto de ousar um pouco mais gosto bastante de usar saia ou calça mais 'transada' um salto (dependendo do tempo e local também). Tive uma experiência de me fantasiar de menino, quando fiz parte da comissão de frente da MUM, de momento acho que foi a roupa/fantasia mais diferente que já usei.
Revista Feras: Sobre o carnaval de hoje, você acha que ele se perdeu em algum momento ou se hoje ele está com mais força que ele tinha antigamente? Você mudaria algo nele?
Raquel Teodoro: - Hoje o Carnaval é outra realidade, estamos 'atualizados', sendo tratado mais como um negócio uma empresa, uma disputa de ego, quem é mais quem pode mais. Já não se tem mais toda aquela essência, já não se vê aquela raiz, o amor de antigamente. O dinheiro move o homem então é difícil dizer o que mudar, mas talvez se o orgulho e ego falassem menos e o amor pelo samba mais alto poderia ser diferente.
Revista Feras: uma inspiração.
Raquel Teodoro: - Inspiração em tudo que faço além do amor e gosto pelo o que eu faço, eu sou o Carnaval pelos meus pais se não fossem eles eu não seria isso. Minha mãe principalmente, sempre presente me acompanha em tudo, me apoia, me aguenta e me segura quando a coisa aperta e ninguém vê, ela que nunca, nunca mesmo me deixa desistir. E carnavalesca eu tenho váriasssss inspirações, mas eu sou muito grata e faço questão de sempre mencionar e lembrar do Jé Branco.
Revista Feras: O que você está fazendo nesses tempos de pandemia?
Raquel Teodoro: - Eu tentei sim me desligar um pouco de tudo, em redes sociais, internet, televisão, ficou tudo tão repetitivo, virou a rotina e o assunto de todos; e tudo ficou tão igual, que acabou me gastando fisicamente e mentalmente. Procurei maratonar séries e filmes, pra poder fugir de tudo que estava acontecendo e tudo que estavam falando. Tive sim os momentos de recaídas e problemas que essa pandemia causou com todos nós (psicologicamente), que me fez deixar comigo mesma e parar com um pouco de tudo em várias vezes. Infelizmente não foi totalmente (hoje tornou-se um vício para todos), mas o quanto eu pude e posso evitar; eu deixo as redes um pouco de lado. Rezo todos os dias para não perder ninguém, e que as pessoas tenham mais consciência e empatia uns com os outros, que não é uma brincadeira, não está sendo fácil pra ninguém viver como estamos vivendo.
Revista Feras: E sobre o que está acontecendo com o mundo agora, a violência policial, racismo escancarado, o fascismo... O que aconteceu no mundo para que chegássemos a esse ponto. O que uma opinião negra e feminina tem a nos dizer sobre todo o caos que acontece hoje no mundo inteiro?
Raquel Teodoro: - Eu penso que tudo o que estamos vendo e vivenciando escancarado hoje sempre existiu, sempre esteve aos nossos olhos na nossa cara, mas não demos a devida atenção e importância porque estávamos "ocupados preocupados" com outros fatores e assuntos, precisou o mundo parar para enxergarmos tudo o que estava o tempo todo em nossa frente. E aparenta não termos outros assuntos para se tratar há nao ser esses, foi um caso e outro que nos despertou e viralizou, agora queremos os nossos direitos, queremos as justiças e 'correr atrás' antes que tudo isso piore (se é que pode piorar).
Acredito que a fé move montanhas, que não percamos a fé seja ela qual for, por mais difícil que os dias tenham sido. Precisamos nos ajudar, uns aos outros, tudo isso vai passar. Força e Fé!
Foto: Adriano Moraes, Gustavo Fotografia e Arquivo Pessoal.
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