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Vicky Cerqueira, diretora de bateria da Ritmo Puro da Morada do Samba, fala sobre vida, carnaval e racismo

Vicky Cerqueira, diretora de bateria da Ritmo Puro da Morada do Samba, fala sobre vida, carnaval e racismo

Data de Publicação: 11 de agosto de 2020 14:40:00

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Única mulher no time de diretores da Bateria Ritmo Puro da Morada do Samba, Vicky Cerqueira, fala sobre vida, evolução do carnaval e situação do país atualmente.

Revista Feras: Quem é Vicky Cerqueira?

Vicky Cerqueira: Oi, meu nome é Victória Cerqueira, mais conhecida como Vicky (risos), tenho 24 anos, atualmente estudo Ciências Contábeis e trabalho nessa área. Sou um pouco tímida (pode não parecer), tenho um instinto protetor com todos a minha volta principalmente minha família e amigos.

Revista Feras: Como entrou pro carnaval, qual sua escola?

Vicky Cerqueira: Minha história no Carnaval começa com a minha família, meu pai desfilou no Camisa Verde Branco muito tempo atrás, meus tios e primos são Vai-Vai e tenho uma prima (Jéssica Dias) que desfilava em ala no Vai-vai  e o pai dela desfilou muitos anos na bateria da Mocidade Alegre. O sonho dele sempre foi ver a filha na bateria da Mocidade até que minha prima foi fazer escolinha na de bateria na Mocidade Alegre, fez o teste passou e logo em seguida no carnaval de 2009 minha prima desfilou a primeira vez na bateria da Mocidade Alegre. Ela chegou a ganhar duas fantasias no mesmo ano e me deu de presente. Desfilei em 2009 em ala pela Mocidade Alegre junto com a minha mãe. Assim que acabou o Carnaval de 2009, iniciaram as inscrições para escolinha de bateria, foi aí que a minha prima insistiu para que eu iniciasse a escolinha. Fiz escolinha, depois o teste e por fim passei! Em 2010 desfilei pela primeira vez em uma bateria. Em 2017 pro Carnaval de 2018 fui convidada para ser diretora de Chocalhos da bateria da Mocidade Alegre, desde então estou até hoje na escola (risos).

Revista Feras: Você como mulher, estando a frente de alguns ritmistas da bateria tem alguma dificuldade com isso? Qual é a sua relação com o pessoal da sua ala?

Vicky Cerqueira: Cara! Eu agradeço muito a Deus por isso, nunca tive algum problema por estar em um cargo muito importante na escola e por ser a única mulher. Graças a Deus sou muito respeitada, minha relação com eles é bem tranquila, sou bem calma, mas sou um pouco brava às vezes quando necessário.

Revista Feras: Qual sua preparação para um dia ensaio e pro dia do desfile oficial?

Vicky Cerqueira: Bom, ensaio normalmente eu procuro me hidratar muito, até porque ensaiamos quase 3 horas direto então é bem importante se hidratar e alimentar bem por conta do calor também. Já na semana do desfile eu faço um ritual religioso de matriz africana então ficou de preceito por 5 dias mais ou menos, sem bebida alcoólica, carne, sexo e outras coisas mais.

Revista Feras: Qual look usa mais em ensaios? E o que prefere pra apresentações nas escolas coirmãs?  e qual look mais diferente que usou.

Vicky Cerqueira: Nos ensaios eu costumo usar shorts ou saia, alguma blusinha larga e fresquinha, até porque época de ensaio é muito calor gente (risos). Eu adoro usar umas roupas despojadas para apresentações, no começo quando virei diretora gostava muito de usar salto, mas com o tempo eu fui cansando então optei por alguns tênis despojados que combinem com tudo. Gosto muito de misturar alguns estilos, de brincar com os looks, tipo: Saia com tênis, camisetas customizadas e claro uma make bem close (risos). Bom, o look mais diferente que eu usei foi a minha roupa do desfile de 2020, foi uma roupa afro (eu amei!). Nunca tinha uso algo do tipo e simplesmente amei!

Revista Feras: Sobre o carnaval de hoje, você acha que ele se perdeu em algum momento ou se hoje ele está com mais força que ele tinha antigamente? Você mudaria algo nele?

Vicky Cerqueira: Cada ano que passa o carnaval evolui né? Com tempo as coisas mudam, eu acho que tudo tem o seu momento e sua hora... Porém eu não acho legal algumas coisas que vem acontecendo em ensaios técnicos acho que a essência dos ensaios estão se perdendo. Muita gente nova desrespeitando o momento “ensaio técnico” e esquecendo que não é uma balada. Essa essência eu sinto muita falta! Porém é o que havia dito, são tempos né? Conforme passa, as coisas mudam.

Revista Feras: Uma inspiração.

Vicky Cerqueira: Eu sou privilegiada por ter mulheres maravilhosas a minha volta! Segue a minha lista: Minha mãe, minhas amigas, minha Presidente Solange Cruz, a produtora de Rap Nicole Balestro, Beyoncé, Jornalista/Empresária e Colunista Eliane Dias. E entre outras, mulheres fodas, guerreiras, empoderadas e fortes!

Revista Feras: O que você está fazendo nesses tempos de pandemia?

Vicky Cerqueira: Eu estou estudando muito, faço faculdade de Ciências contábeis e é uma loucura, nas horas vagas estou me dedicando aos meus pais e a minha família que no momento que estamos é muito valido dar valor a esse momento né?

Primeiramente consciência e senso são os principais, olha o momento que estamos vivendo o que precisamos é de muito amor ao próximo a gente não sabe o dia de amanhã!

Revista Feras: E sobre o que está acontecendo com o mundo agora, a violência policial, racismo escancarado, o fascismo... O que aconteceu no mundo para que chegássemos a esse ponto. O que uma opinião feminina tem a nos dizer sobre todo o caos que acontece hoje no mundo inteiro.

Vicky Cerqueira: Vivemos numa sociedade doente. O racismo sempre existiu aqui no Brasil, a diferença é que até então ele era mais velado. O governo atual, na minha opinião, extremamente racista, fascista e homofóbico apenas normaliza esses absurdos que vemos hoje no país. Essas coisas só aumentam mais o abismo social que já existe por aqui. A polícia, principalmente de São Paulo é extremamente racista, sempre foi! Ela é um dos reflexos das taxas de prisões e mortalidades do povo preto. Não podemos nos calar diante esses absurdos, pois quem não se posiciona, posicionado está e, como disse Angela Davis: Não basta não ser racista, temos que ser anti-racistas.". Temos que ser contra qualquer ato de injustiça, preconceito e segregação.

Por: Victória Teixeira – Colunista

Fotos: Rogérinho Tavares, W Henrique Fotografia e Arquivo pessoal.

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